Avid Minds

четверг, апреля 21, 2005

"Uma situação delicada passada recentemente com um colega, fez-me pensar na necessidade de um estudo sobre a saúde mental dos bolseiros, ex-bolseiros e candidatos a bolseiros de investigação portugueses. Somos de certeza uma classe não-representativa da população, mas ainda assim com significado estatístico (7 mil bolseiros de investigação, li num jornal). A um questionário onde se perguntasse se estivemos nos últimos anos deprimidos ao ponto de procurarmos ajuda médica, mais de metade de nós responderiam que sim. Se o detalhe fosse mais longe e, dentre os outros, se inquirisse quantos acham que deveriam ter procurado ajuda ou que precisam de ser ajudados a superar uma depressão, estou convencida que os restantes diriam também que sim.

Estimando por alto, só para ter uma ordem de grandeza do problema, eu diria que 100% dos bolseiros de investigação passam por fases graves de depressão. Se juntarmos a esse número 3% de incerteza, o palpite passa a quase-verdade.

Somos uns privilegiados, fazemos na vida aquilo que escolhemos, ganhamos bem (atendendo aos padrões portugueses), não trabalhamos demais (outra vez os padrões portugueses), viajamos muito. À primeira vista, nada parece justificar o desânimo generalizado. E no entanto...

O colóquio recente sobre o futuro científico em Portugal trouxe o assunto para os jornais. Ministros cantam-nos loas, fazem promessas de milhões de euros, promessas de milhares de novas bolsas, promessas de empregos que hão-de vir. Pintam um futuro radioso para a Ciência portuguesa - mas nós, que futuro é o nosso? Porque, ao mesmo tempo que no-lo dizem, vão juntando que "as bolsas são e têm de ser de carácter temporário"... Eu, como alguns de vocês, faço investigação há quase 10 anos (sim,o tempo passa tão depressa...), graças às sucessivas bolsas da FCT e do instituto onde estou. Esperam que ao fim de todo este tempo e esforço, passado já o limiar dos 30 há anos, eu vá à procura de emprego onde? Que contributo posso eu dar para a rudimentar indústria portuguesa - eu, vinda da física fundamental, e todos aqueles que vêm de áreas teóricas e/ou não-aplicadas? Que empregador vai querer pagar-nos uma sobre-qualificação de que não precisa?

Talvez o "carácter temporário" que querem dar às bolsas portuguesas signifique que esperam que procuremos financiamento fora do país. Como muitos de nós, de resto, temos feito. E propoem que regressemos já perto da reforma (que, a propósito, dificilmente nos quererão pagar, visto que nunca teremos sido "contribuintes"), depois dos famosos 100 artigos em revistas científicas e 10 orientandos de doutoramento. A dificuldade está no entre-tempo...

Os efeitos colaterais disto tudo são evidentes. Mesmo assim, alguns de nós escolhemos continuar. Procurar novo financiamento todos os 2 ou 3 anos. Mudar de país,de casa e de amigos com a mesma periodicidade. Estar longe da família. E adiar a "vida normal" (casar, ter filhos, ter férias no Verão, pertencer a um local,...) por tempo indeterminado.

Num país onde a taxa de analfabetismo é ainda de 8%, e onde a taxa de analfabetismo funcional ultrapassa de certeza os 50%, somos uma elite perdida num mar de contradições. Entre aqueles que nos tecem louvores e os outros que nos consideram um inútil sumidouro de dinheiro (às vezes os mesmos...), perguntamo-nos se vale mesmo a pena (pessoal e socialmente falando). Deslumbrados por termos chegado tão longe, deprimidos por não nos vermos chegar a lado nenhum. Acreditámos que podíamos ter tudo. Mas o sonho é como um castelo de cartas numa corrente-de-ar."

Amen
Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invoscaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.

Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.

Este país te mata lentamente.



Sophia de Mello Breyner Andresen, Grades (1970)

Promises...

As I had promised years ago, here goes Einstein marvellous speech:

Ladies and gentlemen, our age is proud of the progress it has made in man's intellectual development. The search and striving for truth and knowledge is one of the highest of man's qualities - though often, the pride is most loudly voiced by those who strive the least. And certainly we should take care not to make the intellect our god; it has, of course, powerful muscles, but no personality. It cannot lead, it can only serve; and it is not fastidious in its choice of a leader. This characteristic is reflected in the qualities of its priests, the intellectuals. The intellect has a sharp eye for methods and tools, but is blind to ends and values. So it is no wonder that this fatal blindness is handed on from old to young and today involves a whole generation

(I actually just found this speech posted on a physics blog...nevermind)

As people have discovered this blog I'll post some statements/poems I enjoy.